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terça-feira, 11 de março de 2014

O despertador tocou às 06:30 da manhã como o programando, porém como de costume, Igor levantou às 07:10, seu corpo parecia ter um despertador próprio em que mesmo imerso aos sonhos mais profundos do subconsciente, algo externo parecia fazer com que ele acordasse. Certa vez Igor imaginou se tratar do espírito do avô que o acompanhava, mas logo essa ideia ridícula era posta abaixo, pois a racionalidade o impedia de crer em tais baboseiras.

Esta manhã nublada era especial, 23 de setembro, há exato 1 ano ele salvou sozinho mãe e filha de um agressor. Isso aconteceu quando ele estava indo para a igreja - era obrigado pela mãe a cumprir essa penitência aos domingos - quando se deparou com um homem tomando a mala de uma mulher e a agredindo, Igor não pensou duas vezes e partiu para cima do homem com um chute que faria qualquer brutamontes cair, em seguida ele gritou para as mulheres correrem as quais acataram tal ordem sem pensar duas vezes, os dois trocaram socos e pontapés, o velho tentou sacar um revolver, mas talvez pelo atordoamento da queda, acabou deixando-o cair, Igor nesse momento pelo medo da arma e a raiva que tomara seu corpo, as sensações se misturaram de uma forma em que tudo que ele pôde fazer foi pegar o revolver e arremessar o mais longe possível, então por cerca de 5 minutos os dois se digladiaram – Igor com uma certa vantagem, tendo em vista que o oponente padecia de gordice e falta de agilidade - tempo em que a polícia chegou com a mulher e a filha.

Depois disso a jovem moça chamada Esmeralda agradeceu a Igor e contou que se tratava de um assunto familiar e que seu pai ameaçara ela e a mãe de morte caso partissem. Igor estasiado pela beleza do olhar da jovem, por 30 segundos nem sequer sentiu as dores no peito e na cabeça dos três únicos socos em cheio que realmente tomou, apesar de que forçosamente ou não ele parecia muito mais ferido. Nesse dia o nosso herói se deixou levar pela falta de lógica, pela irracionalidade, o fantasioso que só o ser humano é capaz de criar, nesse dia Igor acreditou no destino, ela havia de ser especial e ele sabia que a partir desse momento os dois ficariam juntos. Bom, mesmo nunca tendo contado isso para Esmeralda, seria esperar demais que ele admitisse tal devaneio, foi por este motivo que Igor tentou e conseguiu o seu amor um dia depois. Agora lá estava ele , indo ao encontro dela, ao mesmo horário, um ano depois, para simplesmente celebrar algo que ele acredita no fundo de sua mente ou de sua alma se é que existe, se tratar de uma união do destino.

No caminho, duas quadras antes de chegar na casa dela, no mesmo local em que travou a suposta batalha de gladiadores, uma rua muito linda e arborizada, sem uma única casa próximo, só o asfalto, calçada e a copa das árvores, algo aconteceu, um homem “não pode ser” disse Igor, veio em sua direção que paralisado misturava cenas de um ano atrás com o momento atual, chegando a ouvir ele mesmo gritar para as duas mulheres correrem, em meio a essa mistura de flashes, o homem de aparência rude, meio gordo, talvez tivesse pouco mais que 50 anos, levantou e apontou a arma para Igor, disparando três vezes, dois tiros no peito e um na parte de trás da cabeça, Igor caiu mortalmente ferido e o homem fugiu sem sequer olhar para trás. A leve brisa gelada dessa primeira manhã de primavera, agora se misturava com o frio repentino e tensão do seu corpo. 

Então tudo veio à tona, como um turbilhão, um sopro de angustia e desespero que se apoderou do seu peito, todo aquele ano, a batalha vitoriosa, o seu amor, tudo isso fora fruto dos seus últimos minutos de vida. Igor agora em uma fagulha de lucidez observava que verdes eram os olhos dela, que lindos olhos, nunca vira nada igual, eram grandes, agressivos e no entanto estavam cheios de lagrimas e suplicas, ele nem sequer pôde perguntar seu nome, tudo que a jovem ouviu foi um leve sussurrar “verdes como a copa das árvores”. Uma lágrima correu seu olho esquerdo, não pela dor da morte, mas pela peça de mau gosto que sua própria mente criou na ânsia por viver alguns minutos a mais, ao longe, o som de um despertador toca...

Autor:  de Bruno Teylon

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